Pesquisa realizada pela BMI (Brazilian Management Institute) com 100 executivos entre diretores e presidentes de empresa identificou que a formação de lideranças parece ser um assunto primordial, na teoria. Enquanto 45% afirmam que o processo de desenvolvimento de lideranças é primordial para gerir durante períodos de crise, 84% deles admitem que este mesmo processo ainda precisa ser aprimorado em suas empresas.
Para Daniel Motta, uma mudança de perfil se faz necessária para a boa gestão, sobretudo, em tempos de crise. Ele faz a oposição entre dois estilos de liderança: autômato e essencial.
O primeiro tem foco em processos de comando e controle, hierarquia. “É um estilo eficaz na entrega de resultados de curto prazo, mas não constrói valores de longo prazo”, diz. A imagem é de um maquinista. “Senta na locomotiva, coloca carvão, impõe um ritmo, muitas vezes, não realista e segue por um trilho único”, explica Motta. O problema é dar espaço para os talentos individuais, sufocados por tanto controle.
A liderança essencial, por sua vez, é ancorada na mobilização, colaboração e inspiração de liderados. “É menos executor e mais facilitador. Estimula que as equipes encontrem soluções já que não impõe nem ritmo nem caminhos únicos”, diz Motta. Não é um maquinista e, sim, um orquestrador.
No entanto, de acordo com ele, não se trata de dicotomia. “Não é para abandonar tudo e, sim, conseguir um equilíbrio. Não colocaria como dualidade. Dependendo da situação, o líder opta por um caminho ou pelo outro”, diz. A questão apontada pelo especialista é que a maioria dos executivos ainda não tem consciência da relevância dos atributos da liderança essencial.
Estes aspectos ligados à colaboração e facilitação de processos são, inclusive, algumas das características que especialistas apostam como obrigatórias nos CEOs do futuro.
De que departamento virá o CEO do futuro?
Marketing, finanças, vendas, operações, recursos humanos. Qual a área que mais tem chance de “gerar” os futuros comandantes de empresas?
“Essa não é uma reposta única. Com certeza, afirmo que o CEO do futuro é multitarefa, multidisciplinar e voltado a negócios e ao consumidor ou ao cliente”, diz Adriana Cambiaghi, diretora associada da Robert Half. Com tantas opções de produtos e serviços, conquistar (e manter) a lealdade dos clientes já é e tende a ser cada vez mais importante para a sustentabilidade de qualquer negócio.
Neste contexto de preocupação com satisfação e retenção de clientes e consumidores, as áreas de vendas, marketing ganham mais destaque na trajetória dos executivos. Mas não é regra. O preceito da conquista do posto de CEO, segundo Adriana, passa pelo histórico de participação em projetos e desempenho de funções que envolvam diferentes áreas.
As qualidades mais importantes no currículo de um CEO (hoje e sempre)
A capacidade de lidar com mudanças rápidas e ciclos mais curtos é e será muito importante no futuro, segundo Daniel Motta. “Vemos esta característica em líderes das áreas relacionadas a atendimento ao cliente e a tecnologia”, diz.
Visão sistêmica e capacidade de síntese também são exigências presentes, segundo o especialista. A exposição a variáveis externas e o trânsito em diferentes fóruns trazem habilidades e ler e modelar comportamentos de acordo com o momento e ambiente. “Temos vistos presidentes com background de filosofia, antropologia”, diz Motta.
Conseguir tomar decisões rápidas com base na análise de dados complexoss e ser capaz de fazer gestão de redes igualmente complexas de fornecedores e parceiros também são características obrigatórias para quem deseja ter sucesso na cadeira de CEO.
O foco em resultados permanece importante em qualquer tempo, diz a coach Mari Martins. “Trazer bons resultados é condição obrigatória. Mas hoje se coloca na pauta a forma como se chega ao resultado”, diz Mari. Preocupação com clima organizacional e com o bem-estar dos funcionários é ponto mais crítico hoje e será no futuro, do que era no passado, por exemplo.
“O CEO do futuro cuida das pessoas, sabe que não se faz nada sem conseguir o engajamento das pessoas”, diz Adriana, diretora associada da Robert Half. Por fim, um aspecto citado por Mari Martins é o intraempreendedorismo. “ A base da motivação é a realização, a vontade de fazer acontecer”, diz.